terça-feira, 27 de setembro de 2016

A suposta existência



Como é o lugar 
quando ninguém passa por ele? 
Existem as coisas 
sem ser vistas? 

O interior do apartamento desabitado, 
a pinça esquecida na gaveta, 
os eucaliptos à noite no caminho 
três vezes deserto, 
a formiga sob a terra no domingo, 
os mortos, um minuto 
depois de sepultados, 
nós, sozinhos 
no quarto sem espelho? 

Que fazem, que são 
as coisas não testadas como coisas, 
minerais não descobertos - e algum dia 
o serão? 

Estrela não pensada, 
palavra rascunhada no papel 
que nunca ninguém leu? 
Existe, existe o mundo 
apenas pelo olhar 
que o cria e lhe confere 
espacialidade? 

Concretitude das coisas: falácia 
de olho enganador, ouvido falso, 
mão que brinca de pegar o não 
e pegando-o concede-lhe 
a ilusão de forma 
e, ilusão maior, a de sentido? 

Ou tudo vige 
planturosamente, à revelia 
de nossa judicial inquirição 
e esta apenas existe consentida 
pelos elementos inquiridos? 
Será tudo talvez hipermercado 
de possíveis e impossíveis possibilíssimos 
que geram minha fantasia de consciência 
enquanto 
exercito a mentira de passear 
mas passeado sou pelo passeio, 
que é o sumo real, a divertir-se 
com esta bruma-sonho de sentir-me 
e fruir peripécias de passagem? 

Eis se delineia 
espantosa batalha 
entre o ser inventado 
e o mundo inventor. 
Sou ficção rebelada 
contra a mente universa
e tento construir-me 
de novo a cada instante, a cada cólica, 
na faina de traçar 
meu início só meu 
e distender um arco de vontade 
para cobrir todo o depósito 
de circunstantes coisas soberanas. 

A guerra sem mercê, indefinida 
prossegue, 
feita de negação, armas de dúvida, 
táticas a se voltarem contra mim, 
teima interrogante de saber 
se existe o inimigo, se existimos 
ou somos todos uma hipótese 
de luta 
ao sol do dia curto em que lutamos. 







ANDRADE, Carlos Drummond de. "A paixão medida". Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.




A VIDA É MUITO PARA SER INSIGNIFICANTE


Já perdoei erros quase imperdoáveis,
Tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis.
Já fiz coisas por impulso,
Já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também já decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
Já dei risada quando não podia,
Já fiz amigos eternos,
Já amei e fui amado, mas também já fui rejeitado,
Já fui amado e não soube amar.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
Já vivi de amor e fiz juras eternas, mas "quebrei a cara" muitas vezes!
Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
Já liguei só pra escutar uma voz,
Já me apaixonei por um sorriso,

Já pensei que fosse morrer de tanta saudade e... tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo). Mas sobrevivi!

E ainda vivo!
Não passo pela vida...
e você também não deveria passar. Viva!

Bom mesmo é ir a luta com determinação,
Abraçar a vida e viver com paixão,
Perder com classe e vencer com ousadia,
Porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é muito para ser insignificante.

(Charles Chaplin)


Nenhum comentário:

Postar um comentário